segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O EMPREGO E A AMIGA



De um encontro inesperado, daqueles em que se encontra um
ser-amigo como  na época do alinhamento dos planetas, lá estava ela,
 linda e toda sorrisos no mesmo trajeto em que eu fazia, estava  de volta pra casa, vinha da amada avenida Augusta com a  Paulista, foram 48 horas de puro lazer,mas isso prefiro não comentar, fica pra próxima ocasião.
De fato foi um encontro inusitado , pois ela disse que fazia outro percurso, via fura-fila e um ônibus na estação Sacomam.
Ela preferia evitar o metrô e o trem, apesar de ter que pegar um ônibus demorado.E foi lá que se deu o grande encontro no percurso metrô-trem.
Fomos tagarelando como duas matracas ou o homem da cobra, no meio do caminho ela pergunta:
- Está trabalhando Bebê!?Perguntou ela.
-Eu disse que não, que havia chutado o balde em uma última empresa, por motivos pessoais.
Ela com voz de anjo, pergunta :
- Quer trabalhar?
- Lógico!... Sabe que não gosto de ficar parado, ao léu pra vida.
Nisso me convida para tomar algumas geladas, mas recuso, ela arregala os olhos, pois bem sabia que não era de recusar convites desse género.
- Você tá cansado né!?
- Tó exausto, parece que tó vindo de uma festa Greco-Romana. Ela sorri.
Pediu para eu anotar o telefone da empresa e o e-mail do gerente.
Assim o fiz, na mesma semana enviei, porém não obtive resposta, liguei então, o gerente todo educado me tratou com o devido respeito, disse que não havia recebido o e-mail, então resolvi entregar em mãos, ele já aproveitou e fez a entrevista no dia.
O gerente vestia uma camisa branquíssima e reluzente com a postura meio que de lado e olhar observador me fez as perguntas básicas, porém me colocou alguma dúvidas e obstáculos em minha frente:
- Você conseguiria enfrentar toda essa carga-horária?
Eu disse sim.
- Não se incomoda de trabalhar aos sábados?
- Não!
- Através do seu currículo mostra que você sempre teve empregos que te deixaram livre, tem que saber fazer contas.
Eu disse:
-Mas já trabalhei cinco anos em um escritório, tá certo que foi a vinte anos atras, mas me adapto fácil.
Ele disse tá bem. Está para surgir uma equipe nova, vou chamá-lo para participar dessa equipe.
Sorri, agradeci e me despedi.
Percebi depois o motivo de tantas perguntas, eu tinha a feição de não me adaptar com a longa prisão que vinha pela frente, além disse questionei o porque de ligarem as 8 :00 H. cobrando o povo.
Passaram algumas semanas , numa sexta-feira, dia de balada, recebi a ligação:
- E aí Romário tudo bem?
- Tudo!? Tó aqui curtindo uma música da Olivia Newton-John.
- AH!... Eu também já curti muito. A conversa ia saindo bem informal,gostei do cara e realmente ele  era um grande homem mesmo.
-Pode vir começar a trabalhar amanhã, a partir das oito horas da manhã.
Em pleno sábado, o danado parecia que estava me testando. Sabe-se lá.
Assim acordei as seis e meia da manhã, tomei meu banho,  um cafezinho preto e fui ter minha primeira jornada. Ônibus, trem metrô e enfrentar os transeuntes.
De sábado era moleza, mas de semana...Hum! que sufoco a  lotação no metrô.
O escritório ficava no décimo oitavo andar, quando entrei achei o máximo, tudo limpíssimo e organizado.Fui bem recebido e meio que sem jeito fui me embrenhando no mundo das cobranças.
A primeira semana me adiantaram o vale transporte e o vale refeição, achei bem difícil o sistema de trabalho no computador, pois estavam passando de um sistema velho para um novo e tinha que aprender os dois , e eu era do tempo do disquete.
Tive a sorte dum rapaz mineirinho ter sido paciente, ter me ensinado e incentivado.Era o mineirinho mais boa pinta que conheci nos últimos tempos daquela minha vida. E ainda por cima pupilo do próprio gerente.
No inicio parecia que havia uma nuvem negra encima da minha cabeça, quis desistir no terceiro dia, o mineiro ficou chocado e dizia:
- Calma você é um homem inteligente, não desista, não, precisa muita prática nem habilidade brincava ele.
Eu dizia que ia ficar naquela primeira semana e depois iria abandonar.Ele insistia que eu ficasse.
No outro dia a nuvem negra saiu e tudo fluiu naturalmente como num passe de mágica, têm coisas que não se explica , passa e pronto.
Vencido o impasse do sistema do computador, preenchimento de telas e outras coisa mais, fui ao contato com o devedores via-fone, onde eu achava que iria me dar melhor, foi onde fiquei chocado, atônito, boquiaberto.Os clientes me trataram com uma hostilidade incrível, aí parei refleti, fiquei observando outros dois cobradores e outros de alguns setores.
Meu supervisor ia me deixando a vontade, e aos poucos fui desenvolvendo meus próprios métodos e copiando alguns que achava viável.
Aos poucos fui me aproximando do meu supervisor, às vezes tomávamos umas cervejas e íamos trocando ideais em relações as cobranças e métodos. Eu sempre fui um cobrador que ouvia o cliente e tentava descobrir junto a ele uma melhor solução para quitação do seu débito. Aos poucos meu gráficos de comissão foram crescendo. Uns dos dias mais memoráveis na empresa foi quando eu distraído ,olho um vulto ao meu lado, me viro e vejo um Sr. cabelos grisalhos, todo sorridente com um ovo de páscoa, estendi os braços e retribui o seu sorriso sincero, era o dono da empresa. Fazia anos que não ganhava nada de algum empregador por isto o motivo do espanto e felicidade pelo gesto simples e sincero.
Outro memorável dia, foi uma festa que dava vista para o belíssimo teatro municipal de São Paulo, as pizzas eram maravilhosas, de bom gosto mesmo, ele acertou em cheio a escolha da comemoração, os funcionários tinham atingidos as metas propostas.No fim de ano ganhamos um cesta de natal supimpa,também teve uma  grande  festa de fim de ano.Cheguei tão alcoolizado que mal vi o que aconteceu, estava passando por problemas sentimentais e nervoso contra o sistema imposto pela gerente geral, de dar cargas excessivas de trabalho no fim de ano.Faltei no dia que era pra trabalhar e ainda fui a festa, ousado e pouco se importando com as regras, ainda numa conversa na festa com o dono, disse  a ele que a empresa dele era fantástica e que não sabia se iria estar trabalhando o ano que vem, afinal em minha mente já sabia o furo que tinha dado,porém agradecia  toda aquela oportunidade. Mas depois de tudo, ainda fiquei 4 meses.Se não fosse pela sacanagem do chefinho e pelo pouco caso do médico que me consultou, pois o problema de saúde se agravou.
Eu sempre fui centrado,introspectivo e até talvez antipático, mas me mantinha  na minha função e posição dos primeiros lugares na cobrança, e entre meus cristais  e minhas corujas na mesa, fui dando um pouco da minha vida.
 Um tempo depois meu supervisor foi dispensado, lógico que ele era a base da equipe e fui tendo um desencantamento com algumas reuniões esquisitas de chefia, não era com o gerente, e sim  de algum babacas que colocaram de chefia, fui adoecendo por alguns desgastes mentais pois cedi a minha vez das férias a uma amiga de trabalho, e por intermédio da mesma, onde até contra meu gosto, ela marcou uma consulta médica. A consulta foi engraçada e nada proveitosa, fui naquele médico que a maioria dos homens querem evitar, o proctologista, nada proveitoso, pois se ele tivesse operado na sua bela e avançada clinica, teria a chance de trabalhar mais e render mais uns anos na empresa, fui obrigado a sair do trabalho.A operação a laser ,a recuperação é rápida e depois de uma semana já se pode trabalhar.Mas como não era conveniência pra ele não era vantagem, pois era pelo convênio, ele não quis operar.
Mas o maior absurdo foi descobrir, quando voltei a ativa, depois de um semana de afasto do trabalho, que um cliente  tinha fechado uma negociação a tempo comigo e o mesmo dizia que meu novo chefe tinha atravessado a minha negociação via Email, isso foi a gota d água.
E antes de jogar o meio- metro de homem do décimo-oitavo andar , fui obrigado a pedir dispensa.
Mas de tudo, guardo as boas lembranças, agradeço os elogios sinceros e calorosos de vários clientes que ajudei a raciocinar e se esforçarem para quitar seus débitos.
Em especial,entre outros, uma grande advogada que disse que nunca tinha sido tratada com tanto respeito, paciência e dignidade. Valeu a experiência de vida.



Comprar muito é fácil, pagar é complicado,receber é uma batalha, mas quando se recebe...
É a melhor satisfação e vitória conseguida, principalmente sem terrorismo e de comum acordo.

                             Obrigado  ao gerente  pela força espiritual e amiga!

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