A festa do saci
Numa floresta do interior do Brasil, de matas gigantescas e rios caudalosos, existiam seres encantados do folclore
brasileiro. Um deles estava aniversariando, iria completar duzentos e treze
anos de idade de peraltices e proteção às matas. Era o Saci Pererê! Este era
mestre em artes da medicina natural, conhecedor de ervas e raízes.
Havia um povoado perto desta floresta, algumas fazendas de plantação de cacau. A maioria das pessoas era de origem humilde e
trabalhadora, às vezes, nas noites de festas, acendiam uma grande fogueira, assavam espigas e batatas doces, os mais velhos costumavam contar as histórias
do coisa ruinzinha que era o Saci, entre outros, como a Cuca que pegava as
crianças; o bicho Papão que as devoravam se não fossem obedientes aos pais.As
crianças ficavam maravilhadas e até assustadas com as histórias do Saci; mas
muitos queriam pegá-lo numa garrafa quando viam um redemoinho. Tinham de jogar a garrafa no rodamoinho ,quando o Saci entrasse na garrafa,era só tampar, tirar
sua carapuça para torná-lo seu escravo, e assim rezava a lenda. Estava perto do
dia 31 de outubro, data onde o Saci fazia aniversário, e sua amiga Cuca, a
bruxa velha malvada, que tinha a cabeça e cauda de jacaré e uma voz estridente,
organizou uma festa ao aniversariante Saci Pererê. Se alguém faltasse, ela iria
transformar este ser rebelde da floresta em estátua de pedra. E assim começa
nossa história.
A Cuca foi visitar o mais belo ser daquela região.
Iara olha à dona Cuca meio que desconfiada e pergunta:
– Que faz por aqui em meu reino? Que prazer imenso. Em tom de deboche.
– Hummm... Prazer imenso - Solta uma gargalhada a bruxa.
– Vim comunicar sobre a festa do Saci Pererê. Não aceitarei desculpas de quem não for, sereia Iara... Avise o Boto Cor de
Rosa, os outros eu mesmo irei à busca, que são: a Mula Sem Cabeça; Boitatá;
Curupira; Pisadeira; Mãe de Ouro; o Bicho Papão, entre outros.
– Nossa quanta gente - Espantou a sereia - Que era
também chamada de mãe d’água.
– Não aceito ausências, já disse! Transformarei em
pedra quem me desafiar... Há, há há.
E a bruxa Cuca sai balançando seu rabo de jacaré. A Cuca adentrou a mata a
procura de dois fortes defensores da floresta e animais, que eram: Boitatá e o
Curupira; há muito tempo o homem branco vinha destruindo as matas e todos eles
lutavam ativamente para dar cabo desses cruéis devastadores da área verde.
Perto de uma clareira lá estava os dois. Eles se tornaram amigos para unir forças contra a devastação das florestas tropicais,
pois comprometia a saúde do mundo inteiro, principalmente o mundo encantado.
O Curupira era um anão de cabelos longos, pés
grandes, onde esses eram virados para trás. O Boitatá era uma cobra enorme de
fogo que corria assustando os malfeitores.
A Cuca já
chegou ansiosa fazendo gritaria e virando agitadamente sua cauda dos lados e
dizendo:
– É aniversário do Saci, é aniversario do Saci!
Boitatá, Curupira, hoje a noite vai ter festa! Quero todos na clareira perto da
minha Caverna, tragam seus presentes... Afinal são trezentos e poucos anos de
vida.
Os dois não se espantam com o jeito da bruxa velha,
já haviam acostumado com seu jeito autoritário e ameaçador.
– Iremos com todo prazer- Disseram os dois
juntos.
– Eu vou levar um gorro vermelho novo, pois aquele já
deve estar com uns duzentos anos. (risos)
Gritou o Boitatá. O Curupira um cachimbo novo.
– Certo, por mim tudo bem. Disse o Curupira.
– Muito bem, muito bem... Há, há, há! Sorri a Cuca.
A Cuca sai rebolando sua cauda grande e gargalhando
que dava até medo, a bruxa de cabelo loiro estava mais animada do que quando
transformava em pedra qualquer intruso que invadia sua área.
Já havia quatro participantes, mas não pararia por
ai, com certeza viriam outros, só de ouvirem o fuzuê, afinal não era sempre que
se reuniam tantos personagens lendários.
O Bicho papão foi o convidado mais difícil de achar,
pois esse não parava de procurar o que comer. Diz à lenda que ele pegava e
devorava crianças, mas não passava de um comedor de frutinhas e folhas. A Cuca
pensou bem, sacudiu seus cabelos e teve uma ideia, iria colocar muitas frutas
e folhas numa rocha para atraí-lo. E assim aconteceu o óbvio, quando esse veio
comer, o pegou de surpresa e o convidou. O Bicho papão ficou feliz da vida, por
adorava comer, não via a hora de chegar essa grande festa.
A floresta toda já sabia da festa surpresa, menos o
Saci é claro, até a mãe terra (Gaia), emitia um som de felicidade bem lá no seu
útero, no centro de onde tudo começou. Até as tribos indígenas sentiam tal bela
vibração.
Assim começou os preparativos da festa, dona Cuca
contratou centenas de vaga-lumes pra iluminar e alegrar a festança, também
contratou um coral de sapos que cantavam desde músicas clássicas até as mais
dançantes. As talentosas aranhas teciam belas decorações em frente da caverna
da velha bruxa Cuca. Tudo ia sendo transformado num verdadeiro salão de festa
bem decorado e animado. Era noite de lua cheia e com certeza na festa na clareira o Lobisomem iria aparecer e, junto ao Bicho papão iriam fazer a festa da
comilança, mas a Cuca tinha sido muito generosa e na festa iria ter muita
comida como: Doces; cupcakes,bolos variados; salgados; sucos; frutas tropicais...E
até uma dança que ela tinha feito com a música: “A Cuca vai pegar”. E não é que
a festa pegou mesmo!
Já era noite quando a bela Iara e o Boto chegaram, estavam numa elegância de tirar o chapéu, e falando em chapéu o boto estava
com um belo terno branco, um chapéu de palha bege claríssimo. Seu traje
combinava com o da bela sereia que usava um vestido longo de cor branco cristalino,
pareciam dois namorados. Quem sabe não eram?
Os sapos cantavam alegremente vários gêneros musicais das florestas e da cidade, pois alguns contratados eram de becos e brejos de
São Paulo; os vaga-lumes voavam e deixavam um ar festivo; as aranhas teciam e
desmanchavam suas obras de artes e depois teciam novamente alegremente.
Orgulhosas e vaidosas mostravam seus talentos natos.
Todos já estavam na clareira em frente à caverna como
o:
Boitatá; a Mula Sem Cabeça; Curupira; Pisadeira; Mãe
de Ouro; o Bicho papão; fadas e gnomos, entre outros seres. Da caverna saiam
tartarugas marinhas gigantes e em suas costas traziam os variados e deliciosos
quitutes e coquetéis de frutas. O Bicho Papão já tinha devorado metade da mesa
de frutas, a Cuca se viu obrigada a dar uma de suas poções para diminuir seu
apetite; ele tomou pensando que era um suco de plantas aromáticas, mas era um
moderador de apetite. De repente todos param de cantar; dançar; comer e falar.
Um barulho ensurdecedor se pronuncia na noite:
– Úuuuuhhhhhhhh!...Úuuuuuuuhhh!...Uuuuuuhhhh...
O uivo do lobo corta a clareira, era o Lobisomem com
seu pêlo todo penteado, trajava uma boina italiana , um belo terno lilás e
cheirando a perfume do campo, chegou dançando como um bailarino espanhol. Era
vaidoso e aparecido demais esse Lobisomem.
Mas cadê o Saci Pererê?... Será que aconteceu alguma
coisa... A Bruxa Cuca começou a ficar irritada e soltar seus gritos na festa;
os convidados continuavam a comer e a dançar; de repente ela solta um berro que
daria pra escutar a sete léguas e, todos se calam. Iara percebendo sua
irritação perguntou se podia ajudar em algo.
É o Saci... O Saci!... Gritava agitada. Onde se meteu?
Será que não recebeu meu convite dizendo que iríamos
invadir o vilarejo e fazer umas traquinagens juntos, era a isca pra ele ser
pego de surpresa na sua festa.
Ela se joga no chão como uma criança birrenta e se esperneia toda. Iara tenta acalma-la e depois combinam ir procurar o Saci mata adentro;
os convidados continuam a festança.
O Saci não tinha casa fixa, uma semana fazia uma cabana na árvore, outra vez perto dos lagos e assim ia vivendo sua vida, pulando numa
perna só, fumando seu cachimbo que era seu xodó, às vezes de longe avistava se
um menino negrinho de gorro vermelho assustando cavalos, dando nó nas crinas e
espantando os intrusos das matas.
A Bruxa Cuca e
Iara depois de horas andando a procura do Saci escutam um barulho de máquinas e
de árvores caindo no chão, as duas quando entraram no acampamento não
acreditam no que viram. Vários animais e aves enjaulados; araras azuis; cervos
amarados em troncos, jaguatiricas.macacos e onças... Até borboletas tinham capturado.
Um pequeno lago estava sujo e peixes boiavam na superfície. Era uma tristeza e
desolação total. Mais a frente o Saci Pererê preso numa gaiola grande, de
cabeça baixa e olhos tristes, onde cantava uma canção baixinha e amargurada.
As duas ouviram um barulho e se escondem, era o capataz que chega e reúne os homens que derrubavam covardemente às árvores, destruindo
a fauna e a flora.
O capataz reúne o pessoal e diz:
– Já chega! Amanha tem mais trabalho, já é tarde e a
Lua não está colaborando muito hoje, escondam as máquinas entre as folhagens e
amanha continuaremos.
Esconderam
as máquinas e todos os seres presos e desolados.
Iara e a bruxa Cuca rapidamente vão até o cativeiro
do Saci, abrem logo a gaiola com uma mágica e o Saci agitado diz:
– Meu gorro, meu gorro... Preciso do meu gorro, sem
ele não sou nada.
Assim traçaram um plano. Iara iria encantar o homem
que estava em posse do gorro vermelho do Saci, esses homens eram maus, pois
estudaram uma forma de pegar os protetores das florestas e aprisioná-los,
queriam construir fábricas ali, e até espantaram alguns índios que estavam em
extinção. E assim quando Iara começou a cantar perto da tenda do capataz, este saiu encantado atrás de sua bela voz. O Saci e a Cuca pegaram o gorro e se
mandaram todos para a festa, mas tinham outros planos em mente.
Todos estavam animados na festa que nem se deram
conta do tempo que estava fora à anfitriã e a Sereia. Quando a cuca chegou
gritou e parou a música, subiu numa pedra e eloquente foi pronunciado a todos o
perigo que a floresta passava, todos ficaram estarrecidos. Num agito geral
todos correram pra o acampamento daqueles homens maus e, em silêncio colocaram areia nos tanques de gasolina das máquinas deixando impossibilitada de
trabalhar, soltaram os animais e pássaros, colocaram laxante em suas panelas de
comida, deram nós nas roupas, amarraram um cordão no outro das botinas, espantaram os cavalos, quebraram os facões e atearam fogo nas tendas. E Se mandaram para a
festa do grande Saci Pererê. Mas as duas deixaram ali um presente a corja de
maus seres, vários e vários pernilongos vorazes e sedentos, abelhas africanas,
zangões, formigas gigantes, taturanas de fogo, aonde, invadiram o acampamento na hora do fuzuê. Os homens maus aos gritos fugiram, pois as picadas eram
doidas e sem cessar. Nunca mais apareceram por lá. E na festa o Saci e a sua
comadre e amiga Cuca dançavam sem parar, ela com seu rabo grande rebolativo e
cabeleira loira solta; ele pulando num pé só, dando gargalhadas e pitando seu
cachimbo.
Os convidados felizes gritavam:
– Vivaaaa
o Saci! Viva!... O Saci Pererê!
FIM
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