domingo, 11 de abril de 2010

O EMPREGO NOVO E A ENCHENTE


O EMPREGO NOVO E A ENCHENTE



As tentativas não foram poucas, Lucas se esforçou para manter seu emprego onde ganhava razoavelmente bem, tinha privilégios e era praticamente ao lado da sua casa, mas não aguentou as pressões do trabalho, então chutou o balde, literalmente falando, se demitindo e se trancando por uma semana em sua suíte, onde não saia nem por um decreto.

Recebendo sua indenização, se deu o luxo de ir comer em um restaurante conceituado, beber vinho importado, dançar e sentir os prazeres da carne das formas mais variadas no grande centro paulistano. E após 48 horas voltou para casa mais leve, mas extremamente exausto dos prazeres da vida.

No caminho alguém surpreendentemente encontrou. Era uma amiga que a anos não se viam.

- Oi Titi, tudo bem... Que surpresa encontra-la. Como você está?

- Tudo bem! Estou trabalhando no centro de São Paulo, num escritório jurídico, sou negociadora de débitos e você bebê, está trabalhando?

- Não estou!

- Mas... Quer trabalhar?

- Claro! Sabe que eu não gosto de ficar parado.

- Anota então o telefone da empresa, que vou deixar o aviso para meu gerente.

- Tudo certo, então, ligarei amanhã mesmo.

- Bebê... Quer descer aqui na avenida dos barzinhos e tomar algo?

- Não!... Estou pra lá do meu limite de farras.

- Nossa! Você pra recusar uma bebida? Realmente não está afim mesmo. Ela então sorri.

Despediram-se, pois  ela desceria no próximo ponto.

No outro dia, Lucas liga durante  a tarde para o gerente do seu futuro emprego,mas ela ainda não havia lhe apresentado informalmente.

Luca então foi pessoalmente levar seu currículo, onde depois de uma semana este foi convocado a fazer o teste e logo foi convocado a ingressar no novo quadro de funcionários.

A primeira semana de trabalho foi inusitada e sacrificada, Lucas tinha que acordar duas horas antes do seu sagrado sono, gastava 1 hora e 45 no trajeto, e chegava estressado, suado no escritório, afinal o metro que usava era no horário de pico, onde um espremia o outro dentro do vagão. A gravata de Lucas ia de um lado a outro, e a maratona dentro deste trajeto ia de alongamento muscular entre a sauna gratuita.

Sorte ainda que era apenas três estações, mas o suficiente para ficar no corredor da morte, onde quando à frente da plataforma, sentia a multidão atrás e o ventinho do metro chegando em sua face.Que bom que algumas estações já estavam sendo criadas com portas de vidro automáticas e se abriam depois do metro já parado na estação.

Para sua felicidade, seu supervisor, passou o seu horário de entrada fora do pico de usuários do metrô. Mas em compensação saia tarde e chegava tarde em casa, mas livre da massa humana, onde nem sempre se portavam como próprio humano.

Na segunda semana foi pra desistir de tudo, um infeliz se jogou na linha do metrô causando transtorno a quem estava voltando para casa, praticamente 5 horas de atraso. Certo usuário brincou ou disse serio - Não dava pro infeliz se matar fora do horário de pico, estou cansado e louco pra chegar em casa. E por sinal ele não era o único. Resultado! Lucas chegou 3 horas depois em casa, mas descobriu outra maneira de ir  pra casa que não fosse metrô e trem.

Depois de tudo, dormiu e acordou para mais um dia de trabalho na cidade que não para, mas os transtornos não parariam pelo episódio passado.

Na mesma semana, a tragédia veio de cima, em forma de muito líquido, nunca Lucas viu tanta água cair do céu, em poucas horas as ruas e rios foram inundando o que deveriam ou não inundar, as ruas, praças e rede ferroviária. Lucas estava para pegar o trem quando viu aquele mundaréu de gente disputando um lugar no trem. Esperou um pouco, pois realmente não dava para entrar em qualquer um dos vagões. Quando conseguiu, o pior estava por vir. Feliz depois de horas entra no trem e se acomoda, mas teria uma experiência pra lá de surreal. Entre a estação Ipiranga e Tamanduateí o trem para e, o maquinista comunica:

Senhores passageiros está impossibilitado de prosseguir viajem devido à enchente do rio Tamanduateí, fiquem calmos e logo prosseguiremos a viajem.
O vagão cheio, o horário estourado, o povo cansado e com fome, apesar de que nessa hora ninguém pensa em comida, manter a calma e quase impossível, sem contar na água que estava quase atingindo o vagão adentro. A água do rio sujo e a doença de leptospirose não saia da cabeça de Lucas. Novamente o maquinista pronuncia:

Senhores passageiros, mantenham a calma, em breve virá um trem rebocador que irá vir buscar-nos. Mas o tempo passava e nada de trem rebocador.
Algumas mulheres já demonstravam desespero e choro, onde tentávamos acalmá-las, com frases feitas e criadas. Os celulares não paravam de serem ativados, era a mãe, o namorado, o marido e a mulher ligando e sendo acessados. Num vagão atrás parecia que o povo estava mais afoito, pois estavam quebrando os vidros das janelas, o ar condicionado estava funcionando, mas mesmo depois de horas o ar fica insuficiente, afinal o psicológico também estava cada vez mais abalado. O povo já com claustrofobia e com descrença nos avisos do maquinista começa a gritar para este abrir as portas para ventilar o ar. Quando este abre, todos ficam assustados, a água estava bem acima do que imaginavam. Já era duas da madrugada e nada de rebocador e da água baixar. O jeito era esperar e manter a calma. Um dos pontos interessantes foi quando o helicóptero passou e todos em euforia gritaram e ergueram as mãos achando que iam aparecer na TV globo. Outro ponto engraçado foi quando o maquinista comunicou calma aos passageiros, mas sua voz estava embargada e tremula como ele mesmo estivesse a ponto de entrar em desespero, Lucas riu da maneira que ele falou.. Outro fato curioso foi bombeiros voluntários vindo de camiseta e short, num bote para retirarem quem estava passando mal, sem ao menos aparelhos de primeiros socorros, mas vamos dar um credito para suas valentias, e outra negativa foi a falta de estrutura de resgate real. Os voluntários salva vidas aconselharam o povo depois de horas já passadas a ir caminhando, afinal a água já estava abaixo dos joelhos. Lucas como um grande hipocondríaco esperou o povo secar o restante da água nas meias, sapatos e nas barras das calcas, quando estava totalmente seco seguiu caminho andando até a próxima estação. Depois de mais uma hora, o novo trem chegou. As pessoas subiram confiantes em chegar em casa e Lucas após oito horas chega são e salvo. Ainda, graças a um velho funcionário da empresa de ônibus que pediu ao dono da permissão para poder trabalhar durante a madrugada para fretar as vitimas da enchente de março de 2008 para suas casas tranquilamente. E tudo termina bem.
É... Lucas, a batalha é dura, mas a vitória é grande!




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